A invalidação emocional é algo que pode ter início logo na infância. O problema é habituarmo-nos tanto a ela, que crescemos a pensar que os nossos sentimentos e emoções não têm lugar no mundo. E quando nos invalidam emocionalmente de forma crónica, já nem reparamos nisso. No entanto, o consequente sentimento de incompreensão, frustração e ressentimento vai crescendo em nós como um fogo fora de controlo.
A validação é a aceitação dos nossos pensamentos, sentimentos e emoções. A invalidação é minimizar, ignorar, negar ou rejeitar os nossos pensamentos, sentimentos e emoções. E embora isso possa ser feito de forma involuntária por nós mesmos ou pelos outros, a realidade é que é algo doloroso. Em especial para as Pessoas Altamente Sensíveis (PAS) que têm um elevado grau de intensidade emocional.
Não é por acaso que nos grupos de PAS um dos grandes lamentos seja “acho que não tenho lugar neste mundo“, “sinto-me incompreendido“. E a invalidação emocional tem um grande papel no aflorar desses sentimentos e em certos casos de depressão, ansiedade ou uma autoestima e autoconfiança frágil. Não é por acaso que a invalidação crónica é agora considerada uma forma de abuso emocional.
No meu caso, por ser Altamente Sensível e uma Buscadora de Altas Sensações, sempre fui mais irrequieta que o meu irmão. Isso implicou que durante toda a nossa infância, se discutíamos invariavelmente eu escutava da minha família: “a culpada és tu”.
E, se bem que olhando para trás entenda que os meus cuidadores não sabiam o que estavam a fazer, o impacto e a mensagem que levei para a vida foi: aconteça o que acontecer, tu és culpada (!) e, por isso, as tuas emoções não contam.
E isso teve uma repercussão direta a nível laboral e relacional. Fui vítima de bullying variadas vezes no trabalho sem nunca me defender. Afinal de contas, as minhas emoções não eram prioridade e podia parecer mal eu responder aos ataques. A nível pessoal aguentei relações tóxicas por parte de amigos e companheiros. Achava normal os meus sentimentos não contarem. Engolia quando me atacavam ou zombavam, mesmo que isso me magoasse.
Mas, o ressentimento posterior durava dias: as situações repetiam-se na minha cabeça tirando-me mais e mais energia. Os tão falados e odiados pensamentos ruminantes, familiares a muitas PAS.
Porém, após descobrir ser uma PAS e iniciar a minha jornada de Alta Sensibilidade, comecei a criar estratégias e práticas na minha vida que impulsionaram a minha autoestima, autocompaixão e consciência das minhas emoções.
Por acaso, aconteceu-me recentemente num encontro social sentir-me magoada pela atitude de certas pessoas. Mais tarde, ao partilhar isso com um amigo que estava presente fui totalmente invalidada. Nessa altura os meus sentimentos de frustração e ressentimento vieram ao de cima. Mas, desta vez graças às práticas de mindfulness soube re-conhecer e responder com bondade ao meu estado emocional.
Quando uma semana mais tarde encontrei outras pessoas que também tinham estado nesse encontro, elas não só aceitaram o meu ponto de vista (validaram as minhas emoções) como até partilhavam da minha perspetiva. Nesse instante a minha alma gritou mais uma vez:
“Sofia, não duvides dos teu sentimentos! Tens direito a sentir.”
Então, tu o que podes fazer em relação à invalidação emocional? Como desenvolver uma relação mais saudável contigo e os outros?
Abaixo partilho contigo 3 fatores importantes a ter em conta que vão empoderar-te nesta jornada. Vamos lá!
- VALIDA-TE EMOCIONALMENTE
A pessoa mais importante perante a qual tens de validar as tuas emoções e sentimentos, é perante ti mesmo. Entender-te e cuidar-te faz parte da jornada da Alta Sensibilidade.
Até aprendermos a reconhecer e aceitar as nossas emoções, será difícil que os outros nos entendam. Muitas das PAS têm um baixo grau de autocompaixão e foram habituadas a rejeitar o seu modo de sentir.
Mas, sabe que as tuas emoções não só são válidas como são uma chamada de atenção. Por exemplo, se sentes raiva ou medo, isso quer dizer que algo pode estar mal. E essas emoções alertam-te para tomares conta de ti de modo a estares seguro.
Para aprenderes a praticar a autocompaixão, tornar-te consciente das tuas emoções e começares a validar-te, lê o artigo:
A Meditação que todas as Pessoas Altamente Sensíveis devem conhecer - COMO É QUE SOA A VALIDAÇÃO VERSUS A INVALIDAÇÃO
Há que ter em atenção que as pessoas que não se validam emocionalmente, podem também não validar os outros porque já perderam essa capacidade.
Por isso, segue uma lista de exemplos de como soa a invalidação VERSUS a validação, para ajudar-te a reconhecer os padrões:
I. Podia ter sido pior. VERSUS Lamento que isso tenha acontecido.
II. És muito sensível. VERSUS Isso parece ser difícil.
III. Levas sempre tudo a peito. VERSUS Desculpa não ter reparado o quanto isso te está a afetar. Quero entender melhor como te sentes.
IV. Porque é que estás tão zangado? VERSUS Os teus sentimentos importam.
V. Não vejo qual o problema. VERSUS Isso deve ser doloroso de sentir.
VI. Não te quero ouvir falar. VERSUS Queres falar sobre isso?
Adicionalmente, existe a invalidação não verbal que pode acontecer enquanto uma pessoa está a expor a sua vulnerabilidade e sentimentos.
Esta pode tomar a forma de: rolar os olhos para cima, sair da sala, estar a ver o telemóvel, ver televisão, jogar um jogo, atender uma chamada, agarrar-se às redes sociais, não fazer contacto visual.
Igualmente, também se considera invalidar a experiência de outra pessoa quando se salta diretamente para dar conselhos sem tomar o tempo para entender o que ela está a sentir. Isto resulta muitas vezes do impulso de querer ajudar, quando na realidade o outro só quer ser escutado.
Em conclusão, o primeiro passo para a validação é escutar com coração presente o que o outro tem para dizer, sem entrar automaticamente em juízo de valores ou na defensiva. No caso de nós mesmos, o primeiro passo para a validação emocional é aceitar com bondade como nos sentimos e não entrar em autocrítica. - CHAMA A ATENÇÃO
Embora o importante seja que nos validemos a nós mesmos, é também importante estabelecer relações saudáveis com pessoas que gostem de nós e se importem com a maneira como sentimos.
Se a pessoa que te está a invalidar é-te próxima e consideras que (1) a sua opinião é importante para ti e (2) vale a pena investir o teu tempo e energia em que ela te entenda, então da próxima vez que te sintas invalidado chama-lhe a atenção. Para isso segue os passos da comunicação não violenta de modo a expressares-te da melhor forma e manter ao máximo a mente calma.
De notar que alguém validar-nos, quer dizer que aceita e re-conhece os nossos sentimentos. No entanto, não é obrigatório que sinta da mesma forma que nós.
Assim como quando nós validamos as emoções dos outros, não é obrigatório que pensemos da mesma maneira. Validar é sim uma forma de ouvirmos o outro com atenção e respeito. De fazermos um esforço para entender o outro lado. Empatizar. Dar conforto. Apoiar. Reconhecer. Aceitar.
Se depois de expores os teus sentimentos de forma não violenta e falar sobre a forma como te sentes invalidado cronicamente, a outra pessoa ainda assim não se interessa pelo que tens a dizer, nem faz um esforço por entender-te, pergunta-te sobre quais são as tuas necessidades nessa relação. E tem a coragem de tomar uma decisão alinhada com essas necessidades. Alinhada com a forma como queres e mereces ser tratado numa relação próxima.
E se precisas de ajuda nesta jornada, se te sentes sobre-estimulado, esgotado, ansioso, desajustado, tens dificuldade em estabelecer limites saudáveis ou tens uma autoestima frágil, ou simplesmente te queres encontrar, estou aqui para te apoiar. Não estás sozinho!
Não deixes o barulho da opinião dos outros, abafar a tua voz interior. Tem a coragem de seguir o teu coração e a tua intuição.
Steve jobs
E tu, acontece invalidares-te? Ou seres invalidado? Quais as tuas estratégias quando isso acontece? Partilha na secção de comentários a tua experiência.
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Sofia Loureiro | BSc • MNat • PhD
Terapeuta Natural & Mentora de Pessoas Altamente Sensíveis • Autora • Palestrante
Especializada em Pessoas Altamente Sensíveis • Certificação em PAS Nickerson Institute • Terapeuta da Dra Elaine Aron List
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Obrigada Sofia por esta partilha muito interessante. E tens razão, parece algo tão comum que já faz parte das nossas vidas.
De facto assim é. É um treino começar por nos validarmos, para em seguida intuir se as pessoas importantes da nossa vida também o fazem ou não. E qual o seu impacto no nosso bem-estar.
Beijinhos
Não conhecia o termo “invalidação emocional” mas através da leitura do artigo compreendo agora o quanto me afeta. A invalidação emocional por parte de pessoas que não nos são próximas é mais fácil de lidar, porém quando vem de figuras por quem temos apreço é demasiado doloroso. As crianças não conhecem processar este invalidação corretamente, pelo que acabam por desenvolver sentimentos de baixa auto-estima e baixa auto-confiança que perduram por anos.
Destaco esta frase “Há que ter em atenção que as pessoas que não se validam emocionalmente, podem também não validar os outros”, isto faz-me compreender muitas situações em que os meus pais não me validaram emocionalmente. Acredito estar a fazer diferente, creio que o sofrimento de cada um, ainda que para nós possa parecer pouco importante em alguns casos, é de extrema importância para o outro e portanto, é válido, é legítimo.
Acredito também que atualmente, neste mundo tão agitado em que vivemos, as pessoas não têm tempo (ou não querem ter tempo) para escutar. É fácil encontrar pessoas que falam muito, mas é difícil encontrar pessoas que ouçam! que ouçam com real interesse naquilo que está a ser dito. Basta vermos nas mesas dos restaurantes, famílias ou casais agarrados ao telemóvel, nem conversam entre si.
Obrigada por ter abordado este tema. Creio que devia ser lido por todas as PAS e por todas pessoas que têm filhos ou que trabalham diretamente com crianças.
Obg pelo feedback detalhado.
De facto há coisas que quando trazemos À consciência permitem-nos ressingnificar muitos eventos da nossa vida.
Acima de tudo, é importante a bondade para connosco quando isto acontece e muita coisa começa a emergir à mente consciente. Sãp processos delicados para alguns de nós.
Beijinhos
Sofia