Pessoas Altamente Sensíveis: a importância de assumir a vulnerabilidade

Pessoas Altamente Sensíveis: a importância de assumir a vulnerabilidade

Falar sobre vulnerabilidade é tocar num tema pouco confortável para muitos. Mas, no Mundo das Pessoas Altamente Sensíveis este é um assunto fulcral não só para estabelecer conexões autênticas, como para o nosso bem-estar emocional. Não é por acaso que uma das Ted Talks com mais visualizações a nível mundial seja precisamente sobre… VULNERABILIDADE.

Quando em 2010 a Brené Brown pisou o palco de uma Ted Talk em Houston ela jamais pensou que a sua palestra “O Poder da Vulnerabilidade” fosse vista 56 milhões de vezes (podes ver a palestra original AQUI ou legendada em português AQUI).

Em apenas 20 minutos a investigadora social aborda questões tão profundas quanto a vergonha, o medo, a desconexão, a insegurança, ou seja, a vulnerabilidade do ser humano.

O seu êxito foi tão grande que hoje em dia não se consegue falar de vulnerabilidade sem nos referirmos a ela. Na sua perspetiva a vulnerabilidade é aquilo que experienciamos em momentos de incerteza, risco e exposição emocional.

Ainda de acordo com a autora e investigadora, a vulnerabilidade não é fraqueza mas sim coragem e é a essência da criatividade e da inovação. É daí que nasce o amor autêntico, a alegria, a aceitação e a empatia.

Segundo a pesquisa de Brené Brown as pessoas mais seguras de si são aquelas que abraçam a sua vulnerabilidade e a entendem como algo necessário e parte natural da vida. “Essas pessoas falam da disposição de fazer algo para o qual não há garantias dos resultados.”

O problema é, que muitas pessoas evitam a todo o custo situações que podem provocar esse sentimento de incerteza. Mas, não assumirmos a vulnerabilidade é usar uma armadura que nos impede de sermos autênticos connosco mesmos e o mundo. É viver numa realidade virtual que apenas aumenta o nosso sentimento de não merecimento, de vergonha, de “não ser suficiente”.

No entanto, assumir a vulnerabilidade não só é difícil para todos, como em particular para as Pessoas Altamente Sensíveis (PAS). Ao sentir tudo tão intensamente, a maioria das PAS carrega feridas emocionais profundas que tenta ignorar de modo a “encaixar” ou “sentir-se normal” ou “continuar funcional” numa sociedade estruturada para os 80% da população que não é altamente sensível.

E assim, construimos muros para nos protegermos de sermos magoados de novo. Só para nos apercebermos mais tarde que esses muros passaram a ser uma prisão que impede de nos conectarmos autenticamente com o mundo. E o sentimento de solidão / depressão é uma das consequências mais visíveis.

Ainda assim, na visão de Brown, é difícil alguém alcançar os seus objetivos ou viver de coração pleno sem aceitar quem é na sua totalidade. Isto inclui os erros, as inseguranças, as fragilidades, as imperfeições. E para mim isso faz muito sentido. Trazer luz à nossa escuridão é um passo importante na Jornada da Alta Sensibilidade.

Se não sabes qual a tua pontuação no Teste de Alta Sensibilidade, clica no botão abaixo ou partilha com alguém o teste:

Mas então o que fazer em relação à vulnerabilidade? Como sei se fujo de ser autêntico? Ou com quem posso abrir o meu coração?

Abaixo partilho contigo 3 fatores importantes a ter em conta que vão empoderar-te nesta jornada. Vamos lá!

  1. SINAIS QUE FOGES DA VULNERABILIDADE


    Uma questão bastante legítima sobre este tema é: como saber que estás a fugir de ser autêntico?

    A resposta mais direta: distrais-te para insensibilizar a vulnerabilidade.

    Observa como reages quando estás uns minutos sozinho e sentes a vulnerabilidade a querer espreitar (ex. tristeza, medo, vergonha, desilusão, ressentimento, melancolia, solidão, insegurança, vontade de chorar).

    Se a tua primeira reação é correr para uma distração ou mecanismo de substituição, então é provável que estejas a fugir de ti mesmo.

    Por exemplo, após uns minutos de estares sozinho, agarras o telefone, recorres às redes sociais, procuras imediatamente companhia, agarras-te ao trabalho, atiras-te à comida, vais às compras, consomes álcool ou outras substâncias, vês televisão, etc.

    Não é por acaso que Brown afirma que somos a geração mais endividada, obesa, viciada e medicada da história.

    O preço que pagas? Ao insensibilizar as emoções difíceis, também perdes as emoções de alegria, de amor, de conexão.

    Se queres aprender a estar com as tuas emoções mais difíceis e desenvolver a tua autocompaixão, recorre à prática de RAIN.

  2. É DESCONFORTÁVEL


    Sim, é muito desconfortável ao início assumir a nossa vulnerabilidade. Mesmo!

    Tendo em conta que uma característica comum a muitas PAS é o alto grau de perfecionismo, é difícil admitir a nós mesmos e perante os outros que não somos perfeitos. E que podemos errar. E que somos altamente sensíveis. E que as coisas afetam-nos profundamente.

    Por exemplo, quando há tempos tive de ter uma conversa muito séria com uma pessoa próxima sobre o modo como estava magoada com a sua atitude, toda eu tremia. Tinha os nervos à flor da pele. E chorei. E senti-me mal. E inadequada. E envergonhada de sentir tudo isso. E medo de não saber o que aconteceria por estar a expor-me daquela maneira.

    E isso aconteceu outras vezes quando tive de estabelecer limites saudáveis. Até que um dia li um artigo em que a autora era PAS e explicava que também ela tinha passado por esse processo até aprender a assumir a sua vulnerabilidade.

    Isso foi um alívio. Não só validou a minha experiência, como a normalizou.

    Por isso tem a mesma bondade para contigo. Se te sentes desconfortável ao início, sabe que isso é normal e faz parte do processo de assumires e aceitares quem és. E a seguir nem imaginas a libertação que se segue.

  3. QUANDO SER VULNERÁVEL


    Outra questão muito pertinente é quando e com quem devemos expor a nossa vulnerabilidade. E novamente a Brené Brown dá-nos uma ajuda neste tópico.

    Segundo ela expor gratuitamente a nossa vulnerabilidade como hoje em dia é costume nas redes sociais não é a melhor das opções. A solução não é despejar o que se passa dentro de nós a qualquer um. Não é contar a nossa vida à primeira pessoa que encontramos. Isso não resulta em conexão, mas sim des-conexão. É usar a vulnerabilidade para ter atenção.

    A exceção é sair da zona de conforto para partilhar coisas com o público quando isso os ajuda na sua jornada. Como eu o faço aqui no Mundo das Pessoas Altamente Sensíveis, para ti. Mas sigo a ética da Brené Brown: só partilho situações que já amadureceram, que já estão resolvidas e que te possam servir.

    De resto, a vulnerabilidade requer confiança, mutualidade e limites saudáveis. É um processo de partilha com quem ganhou o direito a ouvir-nos, que nos apoia, que nos escuta, que se esforça por validar-nos. E requer tempo, atenção, e trabalho.

    E ainda assim não há garantias que o outro vá entender em pleno a nossa mensagem. Por isso é também importante usar a comunicação não violenta quando expressamos o que vai dentro de nós.


    Mas sabes quê? Vale a pena todo esse investimento de energia. Porque assim seremos PAS autênticas, preparadas para ocupar o nosso lugar neste mundo. Esta é a Jornada da Alta Sensibilidade!

E se precisas de ajuda nesta jornada, se te sentes sobre-estimulado, esgotado, ansioso, desajustado, tens dificuldade em estabelecer limites saudáveis ou tens uma autoestima frágil, ou simplesmente queres-te encontrar, estou aqui para te apoiar. Não tenhas medo de pedir ajuda. Não estás sozinho!

Somente quando temos a coragem suficiente para explorar a escuridão, é que descobrimos o poder infinito da nossa própria luz.

Brené Brown

E tu, tens uma batalha com a vulnerabilidade? Ou já consegues ser autêntico contigo e com o mundo? Quais os teus desafios nesta área? Partilha na secção de comentários a tua experiência.

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Sofia Loureiro | BSc • MNat • PhD

Terapeuta Natural & Mentora de Pessoas Altamente Sensíveis • Autora • Palestrante

Especializada em Pessoas Altamente Sensíveis Certificação em PAS Nickerson Institute • Terapeuta da Dra Elaine Aron List

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4 thoughts on “Pessoas Altamente Sensíveis: a importância de assumir a vulnerabilidade

  1. Óptimo tema para reflexão. Assumir a vulnerabilidade é libertador, porém como foi dito é preciso ter autoconfiança, autoconhecimento e maturidade para tal, o que pode levar anos. Nem sempre as pessoas que nos rodeiam são bem intencionadas neste mundo individualista em que vivemos. Sigo a trabalhar os pontos 2 e 3.!

    Gratidão!

    1. Olá Laura e obg pelo feedback.
      É um processo que se complementa porque quanto mais assumimos as vulnerabilidade, mais autoconfiança temos. São todas partes da mesma engrenagem. A famosa bola de neve que quando começa a rolar vai crescendo e não há voltar atrás. Boa jornada minha querida!
      Abraço
      Sofia

  2. Que texto incrível. Adoro pensar em trazer a minha escuridão para a luz. Em 2016 publiquei um pequeno livro a que chamei ‘Dentro de ti, moras tu’ e nele sucediam se textos, crônicas e reflexões sobre viajar.. para dentro de nós, para a escuridão. A importância de falar connosco, para dentro, olhar no espelho e entrar através dos olhos para essa escuridão e trazer as verdades para cima. Foi o início de um caminho.. mas precisei de parar, pausar tudo na minha vida, para compreender que estava longe de conseguir conviver com essas verdades. Sentia me desajustada, via o desinvestimento dos amigos e familiares numa relação feliz comigo e mais me fechava e inibia de contacto social.
    Finalmente, conheci o mundo das PAS e soube logo que era ali que eu pertencia. E esse sentimento de pertença, ao invés da exclusão, trouxe me a paz suficiente para me entregar à auto descoberta, para voltar à conexão comigo mesma.
    Neste Blog, Sofia, encontro informação privilegiada, pertinente. Certeira para mim. Tudo o que escreves, eu sinto, vivo. Sempre me auto intitulei porque me apelidaram de ‘ intensa’. E sempre com conotação negativa. Hoje abraço o meu Ser lindo e imperfeito e aprendo vorazmente técnicas e ferramentas que me ajudem a recuperar a minha autoestima, segurança profissional, contacto social, resgate emocional. A procurar a guerreira que há em mim, a aprender o que são limites saudáveis, a enfrentar conflitos, e sobretudo a respeitar me e à minha natureza altamente sensível. Viver dentro de muros, com medos e bloqueios, numa autoproteção feroz, não era viver. Era sobreviver.
    Grata, muito grata Sofia pela mão que estendes, pelas partilhas tão bem escritas e certeiras.

    1. Olá Migui,
      Antes de mais, obg por te expressares com as tuas partilhas. Isso também najuda todos as PAS a entender as diferentes Jornadas que cada um tem dentro da Alta Sensibilidade. E sim, de facto, depois de nos re-conheceremos à luz deste traço de personalidade muita coisa começa a encaixar e fazer sentido.
      Desejo-te muita bondade para essa caminhada em direção a ti mesma.
      Namastê querida.
      Com carinho,
      Sofia

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