Algumas Pessoas Altamente Sensíveis (PAS) vão ler este artigo e pensar “interessante, conheço alguém assim”. Mas outras PAS ao ler estas linhas vão ter um “click” e entender mais uma faceta do seu temperamento. E, pouco a pouco, vamos nos conhecendo cada vez melhor nesta jornada da Alta Sensibilidade…
Gostas de longas caminhadas ou um desporto (mais) radical? Ou talvez te aborreças com facilidade? Ou precisas de ter novidade na tua vida senão ficas frustrado?
À primeira vista parece difícil que uma PAS, cautelosa por natureza, precise de experiências intensas na sua vida. Mas, na realidade, o traço de temperamento da Alta Sensibilidade co-existe em 30% dos casos com o traço de “High Sensation Seeker” (HSS) que traduzido para português seria “Buscador de Altas Sensações“ (BAS).
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Em geral, os BAS são pessoas que gostam de novidade na vida e desejam experiências novas e intensas. Isto ajuda-os a não caírem no aborrecimento de uma rotina ou até a chegar a um estado de depressão. Então, o que distingue um BAS que é altamente sensível do resto dos buscadores de altas sensações?
Uma pessoa que possua os dois traços de temperamento (PAS&BAS) vai ser aquela que, mesmo que pratique um desporto mais radical, vai fazê-lo tendo em conta todas as regras de modo a sentir-se segura. Por exemplo, um surfista PAS&BAS não vai surfar num local onde haja rochas perigosas, ao contrário dos outros buscadores de altas sensações que provavelmente não vão pensar nisso. Ou uma PAS&BAS que vai numa longa caminhada vai preparar-se bem antes de ir em viagem.
No meu caso, quando andei à boleia pela Europa nos anos 90 com uma amiga que não era Altamente Sensível, eu era quem levava os mapas na mão e sabia sempre onde estávamos e para aonde íamos. Costumávamos brincar e dizer que ela era a Thelma e eu era a Louise (um dos nossos filmes favoritos!). E, antes de descobrir tudo isto, eu pensava que tinha um problema — tipo uma espécie de “dupla personalidade” — porque precisava de segurança por um lado, mas também uma certa dose de “loucura” para me sentir viva.
Não é por acaso que esta mistura de traços de temperamento seja descrita por alguns como “viver com um pé no acelerador e outro no travão”. Então como gerir tudo isto sem entrar em sobre-estimulação devido ao sistema nervoso altamente sensível?
Abaixo partilho contigo 3 dicas que te vão ajudar a gerir esta riqueza de personalidade que pode ser desafiante se não cuidarmos de nós de forma adequada.
- FAZ O QUE PRECISAS PARA TE SENTIR SEGURO
Se eu soubesse tudo isto que estou a partilhar contigo quando fui à Índia, talvez não tivesse sofrido tanto por viajar com duas pessoas BAS que não eram PAS. Ninguém (incluindo eu!) tomou em conta as necessidades de sentir-me segura e essa viagem foi um trauma para mim. Não só fui sujeita à pressão do choque cultural como à luta constante com os meus amigos que não privilegiavam sítios (no meu entender) seguros para ficarmos.
Durante um mês e meio estive em sofrimento intenso, com medo de tudo e todos. Sentia-me um animal encurralado sem ter para onde fugir e acordava em desespero a chorar. Mas decidi aguentar tudo porque tinha um bilhete para a Tailândia para seguirmos viagem. Se soubesse o que sei hoje, teria cuidado de mim com mais amor e estabelecido barreiras saudáveis desde o início!
Por isso, quando embarcares na tua próxima aventura recorda de tomar as medidas necessárias para manter o teu sentimento de segurança apaziguado. Também não é preciso ir a extremos ao ponto de ter tudo planeado caso contrário, onde está a aventura? Isso leva-nos ao próximo ponto. - PROCURA O EQUILÍBRIO
Por um lado, estar o tempo todo em ambientes seguros para suportar a nossa alta sensibilidade não vai contentar a busca de altas sensações. De facto, isso pode até levar a situações de agitação, ansiedade, frustração ou depressão. Por outro lado, lançar-se a desportos radicais de alto risco pode ser demasiado extremo para uma PAS.
Existem por isso várias atividades que nos proporcionam novas sensações: desde fazer longas caminhadas ou viagens a países exóticos ou experimentar um desporto mais radical, a simplesmente ir a um concerto ou a um restaurante de comida exótica ou visitar um lugar próximo, mas que não conhecemos ou aprende algo de novo.
Cada pessoa deverá encontrar o seu ponto de equilíbrio em que se leva a nossa parte de busca-de-altas-sensações a passear, mas com as precauções q.b.. Presta atenção ao que resulta para ti e ao que não te faz sentir tão bem. A melhor aprendizagem muitas vezes é a “tentativa e erro” (trial and error). Pode levar tempo a aprender, mas vale bem a pena! - ACEITA-TE TAL COMO ÉS
Entende que sendo uma PAS provavelmente não poderás fazer o mesmo que os teus amigos buscadores-de-altas-sensações não PAS, sem ficares sobre-estimulado. Estabelece as tuas barreiras saudáveis desde o início.
E se alguma vez a vozinha autocrítica ou da frustração de seres assim começar a soar, recorre à minha meditação favorita de autocompaixão.
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O autoconhecimento dá-nos o poder de compreender a nossa vida.
Vernon Howard
Não conhecia este traço de temperamento, tal como tu muitas vezes pensei ser bipolar, se por um lado gosto de sair de casa com um destino e uma actividade para fazer, por outro gosto de ir à descoberta de coisas novas, adoro experimentar restaurantes exóticos, o próximo será mexicano☺️
Olá Filipa
Obg pela partilha. Talvez haja alguma confusão. Quando no artigo menciono uma espécie de “dupla personalidade” não me estou a referir a bipolar. De facto, bipolar é um trastorno de humor em que existe uma alternância entre estados depressivos e estados de mania (dois pólos, bi-polar). O que tradicionalmente era referido como maníaco-depressivo.
A minha sensação era mais bem uma espécie de “dupla personalidade”, uma personalidade que queria segurança e outra que queria novidade.
Agora sei que esse comportamento deriva de dois traços de temperamento / personalidade que co-existem com alguma frequência (alta sensibilidade & buscador de altas sensações).
Beijinhos,
Sofia