Entrevista com o Jornal Sol
É o regresso do óleo de fígado de bacalhau à farmácia caseira. Segundo Sofia Loureiro, autora do livro Guia de Remédios Naturais para Crianças (ed. Nascente), este é um dos suplementos alimentares a ser tomado pelas crianças, para aumentar as suas defesas. «Muitos dos saberes dos nossos avós estavam certos. Aliás, muitos estudos de fitoterapia vêm confirmar hoje que algumas tradições de antigamente ainda funcionam, e o óleo de fígado de bacalhau é uma delas».
Ao lado deste suplemento, a terapeuta natural recomenda que se tenha em casa própolis, probióticos – como iogurtes biológicos, couve fermentada e kefir – e complexos que contenham equinácea para estimular o sistema imunitário. o objectivo é fortalecer o organismo na mudança de estação, «quando também a actividade dos órgãos se altera». e evitar que se recorra com tanta frequência aos medicamentos convencionais.
«os químicos estão cá para serem usados, no momento certo, mas não no princípio do caminho. deverão ser uma segunda abordagem no tratamento das doenças», defende sofia loureiro.
ariane brand, pediatra que recorre cada vez mais à fitoterapia e à homeopatia, considera que «o tempo dos pais que queriam antibióticos à força já lá vai». e que a própria classe médica começa a ter uma preocupação sobre os «venenos ambientais», sejam medicamentos ou mesmo alimentos.
no caso da autora de guia de remédios naturais para crianças, o perigo de uma sociedade «dependente de comprimidos» leva-a a ter sempre consigo «um estojo de remédios naturais» – uma versão reduzida da ‘farmácia’ que descreve no início do livro.
o chamado «kit natural» inclui plantas, de ervas aromáticas a hortícolas, como alho, cebola e limão, e ‘remédios’ tão simples como gelo e sacos de água quente. mas de entre os componentes do kit, o mais abrangente é o gengibre. «tem um espectro de acção muito grande, e pode ser utilizado em casos de tosse, febre, constipações ou distúrbios digestivos». é por esta razão que sofia sugere a introdução do gengibre fresco na cozinha, para facilitar o seu consumo. «nas saladas, por exemplo, não temos de usar só alface, tomate e cebola. podemos usar imensas plantas medicinais na culinária e tornar os alimentos mais energéticos e, ao mesmo tempo, mais saborosos».
para francisco varatojo, este foi o ensinamento mais valioso que adquiriu antes de ser pai, pela primeira vez, há 29 anos. ao apostar na boa alimentação da mulher, durante a gravidez, e depois dos quatro filhos, o professor de macrobiótica e medicina oriental contribuiu para que a família não tivesse de recorrer a médicos na infância. «os meus filhos adoeceram várias vezes e pedimos conselhos uma ou outra vez, mas nunca foi necessário consultarmos um pediatra». francisco varatojo conta ainda que só por uma vez é que um dos filhos teve de tomar um antibiótico, «e porque estava fora do país».
a receita para este sucesso deveu-se a uma alimentação virada para o reforço do sistema imunitário, logo na gestação, sem açúcares, carne vermelha ou lacticínios e privilegiando os vegetais e os cereais integrais. «o que se faz nos primeiros nove meses de crescimento pode fazer a diferença para toda a vida. até costumo dizer que as grávidas não devem ver filmes de terror», afirma.
depois, contribuiu também uma boa dose de «paciência». de acordo com o responsável pelo instituto macrobiótico de portugal, deve evitar-se dar medicamentos «mal surjam os primeiros sintomas», dar tempo à criança para recuperar e esperar que «mezinhas» – como simples infusões – façam efeito.
sofia loureiro defende até que «as crianças têm a maior capacidade de reacção aos tratamentos naturais» e, por isso, as tais mezinhas quando conjugadas com «medidas de prevenção e o bom exemplo dos pais» fazem com que a criança não seja «um terreno tão aberto a problemas de saúde».
também ariane brand realça «os resultados espantosos» das terapêuticas naturais nos mais novos: «são muito superiores aos verificados nos adultos». no entanto, a pediatra lembra que é preciso «trabalhar com conhecimento de causa», o que a fez acrescentar «mais opções de tratamento» deste tipo numa nova edição do seu livro as doenças das crianças.
no final, resta permitir que a criança tenha tempo para descansar. porque, muitas vezes, o repouso é o melhor dos remédios. l
francisca.seabra@sol.pt