Jornal Público • Um futuro natural

Jornal Público • Um futuro natural

Entrevista ao Jornal Público pela jornalista Rita Pimenta.

Se uma criança tiver uma alimentação saudável, fizer exercício físico, dormir um sono reparador, estiver muitas vezes em contacto com a natureza e mantiver a sua criatividade estimulada, tem tudo para se tornar num adulto equilibrado e são. Se a tudo isto se acrescentar o reforço do seu sistema imunitário a cada mudança de estação, então estaremos a prevenir uma série de doenças e a evitar que se transforme num idoso consumidor de dez comprimidos por dia. Indicações da autora do Guia de Remédios Naturais para Crianças (ed. Nascente), Sofia Loureiro, que continua a tomar óleo de fígado de bacalhau e não se lembra da última vez que teve de recorrer a um antibiótico.

“A partir de certa altura, disseram-nos que não tínhamos competência para sermos responsáveis pela nossa saúde. E depositámo-la nas mãos dos técnicos. Isto não pode ser assim, o paradigma tem de mudar”, diz a terapeuta, 42 anos, licenciada em Química Aplicada e especializada em Biotecnologia.

Sofia Loureiro aposta na prevenção das doenças e nos remédios naturais, deixando os medicamentos de síntese apenas para os casos em que aqueles não consigam resolver os problemas. “Não devemos esquecer que o corpo tem um poder natural de cura e que se nós o reforçarmos e estimularmos, através de medidas saudáveis e com técnicas preventivas, temos muitas hipóteses de que ele vá conseguir reagir aos remédios naturais e não vamos precisar de chegar aos medicamentos de síntese.” Mas não os recusa. “Não sou contra os outros tratamentos, cada um tem o seu lugar. Mas os outros só se devem usar nas ocasiões necessárias. Devem ser a excepção e não a regra. Como é evidente, perante um choque anafiláctico, se tivermos um injector de adrenalina, é isso que vamos usar, sem dúvida.”

Defende então um sentido comum. “No livro, cada rubrica tem no final o registo de todas as ocasiões em que se devem dirigir a um profissional de saúde. Se as pessoas tiverem dúvidas, se sofrerem de uma doença crónica ou já estiverem a tomar medicamentos, devem consultar um médico. Com a prática, saberão quando actuar de uma maneira ou de outra. O mesmo com os filhos”, explica.

Crianças saudáveis, activas e motivadas

O ideal é ter uma vida saudável, aprender a escutar o corpo e a prestar a devida atenção aos sinais que nos envia, comportamento que deve ser incentivado e transmitido às crianças: “Os pais têm de se relembrar que têm um papel de guia e de orientador e devem passar às crianças os ensinamentos de que têm de se exercitar, que têm de dormir, que têm de comer bem. E dar o exemplo.” Aqui, cita de cor Einstein: “Dar o exemplo não é a melhor forma de ensinar, é a única.”

Sofia Loureiro, que trabalhou nos anos 1990 no Instituto Ricardo Jorge, num projecto de genética humana, acredita que, “se as crianças forem criadas em equilíbrio com a natureza, serão aquilo de que precisamos para a próxima geração: pessoas saudáveis, activas e motivadas”. Acrescenta ainda que “delas depende o nosso progresso, não só enquanto sociedade, mas enquanto humanidade”.

Tratamentos simples

Foi em Barcelona que começou a dedicar-se mais aprofundadamente ao estudo das terapias naturais, depois do doutoramento em Química do Ambiente. Durante o dia trabalhava no Instituto de Ciências do Mar (bolsa de pós-doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia) e à noite estudava terapias naturais. “Encontrei na naturopatia a ponte entre a microbiologia humana e o macrocosmo ambiental. Uma planta pode ser usada para nos tratar na saúde e nos ajudar em termos ambientais.”

A opção de criar um guia de remédios para crianças resultou da necessidade de dar resposta aos adultos que a procuravam no consultório e também aos amigos (com filhos) que lhe diziam não encontrar obras em português sobre o assunto. “Percebi que os pais tinham realmente necessidade de acesso a este tipo de informação. Quis dar-lhes a conhecer tratamentos muito simples para as queixas comuns das crianças, antes de optarem por tratamentos mais agressivos e invasivos.”

Ajudar a formar pessoas mais conscientes e mais responsáveis é um dos seus propósitos. “Não foi um livro escrito levianamente só porque havia uma lacuna no mercado. Tem por base a vontade de contribuir para a mudança deste paradigma que leva as pessoas a tomar comprimidos de síntese por tudo e por nada.”

E desagrada-lhe o transporte frequente dos problemas quotidianos para problemas médicos. “Estamos tristes, não aprendemos a lidar com as emoções, tomamos um antidepressivo; temos insónias, em vez de aprendermos técnicas de relaxamento, tomamos um comprimido para dormir; a criança tem muita energia, em vez de se canalizar essa energia para algum talento que certamente terá, dá-se-lhe um psico-estimulante.” Ou seja, “os problemas da vida comum são transformados em medicamentos”.

Por isso, não tem dúvidas de que é preciso começar já a mudança, “antes que a Europa importe o modelo americano”. E cita o caso da facilidade com que se diagnostica hiperactividade nas crianças e se prescreve Ritalina: “Na Suécia foi proibida a Ritalina (metilfenidato). Havia um tal abuso das prescrições que houve um apelo aos médicos para que não receitassem este medicamento, mesmo que os pais insistissem no pedido.”

Saberes perdidos

Sofia Loureiro diz que as pessoas desconhecem que é possível curarem-se com plantas, suplementos naturais e óleos essenciais. Lembra que estes saberes e práticas eram muito comuns há 40 anos, mas que se foram perdendo. E não quer que se confundam com mezinhas.

“Tivemos a indústria química, sobretudo a farmacêutica, a entrar em grande. O que começou com muito boas intenções, de fazer medicamentos mais concentrados ou mais dirigidos a certos males, quando os naturais já não funcionavam, acabou por se tornar na regra e não na excepção.” Resultado: “Hoje, temos uma população sénior a tomar dez comprimidos por dia, completamente dependente desses medicamentos, e um sistema financeiro à beira do colapso com uma dívida gigantesca à indústria farmacêutica.”

Enquanto bebe um sumo de laranja natural, a investigadora diz ao Life&Style que “as crianças que agora seguirem este guia não precisarão de tantos comprimidos no futuro porque o seu organismo terá o poder de reagir a tratamentos naturais e aos desequilíbrios”. Vai estar fortalecido e, quando for necessário tomar um medicamento, este fará mais efeito. “O poder natural do corpo (vis medicatrix naturae) vai estar activo. Se tivermos uma infecção, vamos buscar plantas ou produtos das abelhas, o própolis ou a geleia real, para estimular e reforçar esse poder de cura, que existe, está lá e é natural ao nosso corpo.”

O livro sugere para cada doença ou queixa da criança vários tipos de tratamento e de prevenção, integrados nestes grandes grupos: dieta e suplementos; fitoterapia (herbalismo e aromaterapia); florais de Bach; hidroterapia e geoterapia; homeopatia e sais de Schüssler; reflexologia. 

Sugestões de reforço do sistema imunitário no Outono

No capítulo das prevenções e do sistema imunitário, sugere-se que se faça um reforço do sistema imunitário nas mudanças de estação (Primavera e Outono). Períodos em que os órgãos mudam a actividade e convém não estarem fragilizados.

Nesta altura do ano (Outono), os problemas que aparecem mais nos miúdos são as gripes e as constipações. Por isso, durante três/quatro semanas deve fazer-se um reforço de vitalização, para as preparar para o Inverno.

Dependendo da idade da criança, há suplementos alimentares multivitamínicos já preparados, à base de plantas ou da colmeia, que se podem encontrar nas dietéticas, ervanárias, farmácias e parafarmácias. O objectivo é estimular o sistema de defesas antes da chegada do frio. É preciso saber se a criança é alérgica a algum dos componentes. A reacção alérgica às flores, por exemplo, é muito comum.

Também a flora intestinal precisa de estar equilibrada. Para isso, há que consumir probióticos (bifidos, lacto-bacilos, etc.), que podem ou não estar vivos nos iogurtes. (Depende se a cadeia do frio foi ou não quebrada até chegar à nossa casa. Se foi quebrada, já não estarão tão activos.) Continua a ser muito importante o óleo de fígado de bacalhau, pois estão lá os ómegas.

Há que pensar também (e primeiro) numa alimentação saudável. A dietética deve contemplar peixes gordos duas a três vezes por semana. Nas idades mais baixas, deve preferir-se os peixes que não têm níveis elevados de mercúrio. (Quanto mais alto na cadeia alimentar, maior a quantidade de mercúrio, pois há bioacumulação. Casos do espadarte e do atum.) Beber muita água é também fundamental.

Depois destes reforços e cautelas, a possibilidade de a criança ter uma gripe já vai ser muito diminuída.

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